Estão prontos pra viajar no tempo comigo? Quem me segue no Instagram (@julianamaltablog), sabe que AMO histórias de viagem no tempo e séries e filmes que se passam na Era Medieval. E durante nossa viagem à Tallinn na Estônia, tivemos a oportunidade de viajar no tempo até o Século XV e hoje vou contar como foi essa experiência inesquecível.
Tudo começou quando estávamos procurando o que faríamos durante o Ano Novo em Tallinn, foi daí que encontramos o Olde Hansa, um restaurante mundialmente famoso que serve comida medieval e que eles fazem uma festa de Ano Novo Medieval, tudo feito como no Século XV. Amei a ideia e foi uma das experiências mais esperadas da viagem.
“Olde Hansa” vem do alemão antigo e significa “tribo antiga” e o restaurante fica em uma antiga casa de 3 andares que pertencia a um comerciante rico e como a cidade que antigamente se chamava de Reval era uma rota comercial importante principalmente entre os séculos XIII e XVI, então os viajantes sempre comiam e descansavam numa taberna (já repararam isso nas séries?) – e isso serviu de inspiração pro restaurante, que fica localizado bem no coração da cidade antiga de Tallinn e a poucos passos da praça principal da cidade, onde acontece o Christmas Market.
Eles pedem pra não atrasar pra que a gente não perca nada da experiência, então chegamos uns 15min antes das 20h e a experiência toda já começa antes de entrar no restaurante – que ficava no fim da rua do nosso hotel – enquanto ia andando por aquela rua, olhando os prédios de 500, 600 anos parece que eu tava andando e voltando no tempo até chegar no restaurante, ou seja, no Século XV. Me senti a própria Claire da série Outlander atravessando as pedras de Craigh Na Dun.😝 A cada passo prestava atenção nos detalhes de ferro na fachada, um carrinho onde eles vendem amêndoas torradas com canela e açúcar, as meninas do carrinho com roupas de época, as tochas com fogo indicando a entrada. Na entrada, um senhor vestido também com roupas de época abriu a porta pra a gente e agora sim tinha acabado de atravessar um portal pro século XV.
Dei aquela olhada a minha volta e fiquei impressionada com a beleza e cuidado com todos os detalhes da decoração do restaurante. Pinturas na parede contando a história da cidade, o ambiente bem escuro (ainda não tinha eletricidade no séc XV), os lustres de madeira com velas de verdade, as mesas, cadeiras e bancos de madeira, a música ao vivo de fundo e me veio na cabeça o que li na descrição do site deles: “tudo que você ver, tocar, comer e ouvir foi feito como no século XV”, e foi assim mesmo que me senti, dentro de uma verdadeira festa medieval como eu vejo nas séries e filmes que amo.
Na mesa tinha um papelzinho parecido com um pergaminho com meu nome escrito – me arrependi de não ter pego, e logo veio uma pessoa explicar que o acento do banco é um baú pra a gente poder colocar os casacos e nossas coisas. Sentamos e pude ver os detalhes da mesa, já tinha um tábua com alguns aperitivos pra que a gente pudesse já ir comendo enquanto as outras pessoas vão chegando e se ajeitando, garrafas de cerâmica, como de vidro bem rústico, porta-vela lindo de ferro e numa parte mais elevada do salão tinha uma banda tocando músicas medievais.
A festa começou as 20h em ponto e tínhamos um arauto – tipo um mestre de cerimônias – que se chama Gregorius e começou a explicar como seria a festa, e ele usava um jeito de falar com palavras e gestos da época como se ele tivesse atuando num filme. Ele também escolheu uma pessoa pra ser o “master of the feast”, tipo um convidado especial, que experimentou o pão primeiro que todo mundo e Gregorius disse que se ele não gostar do pão, não teria festa e todo mundo teria que ir embora. AInda bem que ele gostou do pão e Gregorius logo falou que “Agora vamos começar a festa de verdade” e aprendemos a brindar falando “Vivat!”.
Enquanto a comida era servida na mesa, Gregorius apresentou os funcionários e pediu pra a banda falar sobre os instrumentos que eram utilizados na época e que eles estavam usando pra tocar as músicas pra nós. Realmente uma imersão à cultura da época! Depois ele começou a contar várias histórias sobre a cidade e isso foi uma das coisas que mais gostei no jantar, porque o jeito dele contar é muito envolvente, em alguns momentos ele chama algumas pessoas pra fazer parte da história (Dave e eu participamos!).
O QUE FOI SERVIDO NO BANQUETE MEDIEVAL | Toda a comida servida foram feitas com receitas de 700 anos atrás, então os aperitivos eram na descrição do site:
・Picles em Conserva à Livônia
・Bagas de oliveira de uma árvore altamente abençoada
・Picles de açafrão do comerciante de Londres
・Paté de Fígado de Aves Real Francês com Adorável Compota de Cebola
・Salmão recém-pescado do pescador da Andaluzia
・Queijo fresco do castelo
・Pasta de espinafre e amêndoa com especiarias de uma terra distante
・Pão crocante de sementes de alcaravia
・Pão de Ervas com Nozes
・Pão de Centeio (Rye) com Banha
E no jantar “banquete” foi servido:
・Bochecha de boi
・Pato com molho de açafrão dourado
・Salsicha de sangue de carne ibérica
・Urso das florestas da Estônia
・Chucrute defumado
・Espelta cozida com açafrão (parecia um arroz)
・Raiz de gengibre
・Sopa de Lentilha
O momento do jantar foi outro momento que me senti dentro de uma cena de Vikings, Outlander ou The Last Kingdom quando eles estão participando de algum feast com rei ou quando estão em alguma taberna. A iluminação só com velas, os pratos e copos de cerâmica, a música de fundo e tudo mais fazendo com que a gente entre cada vez mais na atmosfera Medieval. Também foi a primeira vez que provei carne de urso, já que a Estônia é famosa por consumir muita carne de caça. Apesar de ser aquela pessoa que come de tudo, confesso que ela em específico não foi minha preferida, a aparência era parecida com carne de panela mas o gosto era muito diferente pra mim. Talvez se eu provar outras vezes possa ser que eu vá me acostumando com o gosto, mas de primeira não minha preferida. Mas o jantar foi muito gostoso e servido em pequenas tijelas que olhando parecia pouco, mas como eram muitas coisas repetimos umas 3x pra a comida terminar, aí também tive certeza do que li no site “vai ser um banquete com comida mais que suficiente” e foi mesmo. Experimentamos uma bebida chamada Schnapps que é uma cachaça feita com especiarias e escolhemos dois tipos, uma mais forte feito também com semente de algo parecido com cominho (caraway seed) que é servido em um copo diferente e que o Gregorius ensina o jeito certo de pegar nesse copo e outra mais docinha feito com frutas vermelhas.
De sobremesa foi servido um “Christmas Pudding” que tem a textura parecida com um creme e doce na medida certa. Logo após a sobremesa, Gregorius começou a avisar que quem for terminando já podia ir se arrumando pra esperar a hora de sair do restaurante pra a última parte da experiência. Na hora de pagar as coisas extras que tinhamos pedido, na hora de assinar o atendente falou “deixa eu pegar uma pena pra você assinar” aí logo falou “ah não tenho uma pena agora, mas tenho essa tecnologia do século XXI chamada caneta”. Como eu amei isso deles pensarem em tudo! Aproveitei pra ir no banheiro e meu deus, o banheiro também é medieval! Assistam o vídeo pra ver com detalhes!
Saímos as 23h45 e logo começou um show de fogo com uma menina vestida de época, claro! Esse show me lembrou muito o ANo Novo que passamos na Escócia por causa do fogo, que os antepassados acreditavam que significa purificação e renovação. Tudo a ver com o ano novo que se inicia, né? Começou a nevar bem na hora que a menina começou a dançar com o fogo girando ao redor do corpo dela. Foi lindo, inesquecível!
E assim terminou nossa experiência do jantar de ano novo medieval e voltamos pro nosso tempo pra começar o ano de 2022.
Super recomendo a experiência desse jantar se você for pra Tallinn no Natal ou no Ano Novo. Custou 135 euros por pessoa, um pouco caro, mas amei como tudo foi pensado pra nos transportar pra aquela época. O restaurante serve comida medieval todos os dias – os pratos do jantar de ano novo estão no cardápio regular – e tudo que é servido vem de produção local, sejam os cogumelos que são colhidos nas florestas da Estônia e a avelã que é a única noz que cresce no país, mas não é comercializada, você simplesmente vai pra a floresta e colhe cogumelos e frutas e não precisa de autorização pra isso. E não precisa ir muito longe pra isso já que o país tem 50% do território coberto de floresta, isso explica essa conexão tão forte que os estonianos tem com a natureza. Os queijos vem de um fazendeiro local e como falei anteriormente a Estônia consome muita carne de caça, então no Olde Hansa você vai encontrar carne de javali, alce, urso, todos caçados nas florestas estonianas. As cervejas também são artesanais e vi todo mundo falando muito bem da cerveja de canela. Fica a dica aí pra quem gosta de cerveja! Ou seja, como todos os ingredientes são locais e tudo feito com recursos e ingredientes da época, isso reflete diretamente no sabor dos alimentos, fazendo com que nós possamos sentir mais sabor dos alimentos e saber extamente como as pessoas se alimentavam há 700 anos atrás.
No mesmo prédio também tá localizada a loja Olde Hansa Shoppe, que vende tudo feito artesanalmente como era medieval, são as bebidas, especiarias, pratos e jarras de cerâmica iguais as usadas no restaurante, copos, roupas medievais, cervejas, tudo com uma qualidade incrível, embalagens lindas como a do Schnapps onde a tampa é lacrada com vela derretida.
📍 Vana turg 1, Tallinn, Estônia
Então se você gosta da Era Medieval e tá indo pra a Estônia fica aí a dica de um lugar onde a gente pode viajar no tempo em qualquer época do ano. O portal pro século XV está sempre aberto em Tallin!
Clica no vídeo abaixo pra assistir o vídeo que fiz de toda nossa experiência pra complementar o post. Aproveita pra se inscrever no canal pra receber notificação dos próximos vídeos!
